Artigo científico do Projeto Fadigômetro aponta impacto na fadiga das operações nas madrugadas na aviação regular brasileira.
Passados três anos e meio desde o início da coleta de dados reais das escalas executadas dos aeronautas brasileiros, o Projeto Fadigômetro acaba de disponibilizar um novo artigo científico – ainda em versão preliminar, na forma de pre-print1 – na plataforma airXiv.
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Focado na identificação das causas raízes da fadiga através de modelo biomatemático, o estudo utilizou uma amostra de 8476 escalas de voo em um período pré-Covid-19, a partir das quais os pesquisadores demonstraram e quantificaram os efeitos adversos das madrugadas e das operações de pousos e decolagens entre 2 e 6 da manhã. Os principais indicadores de fadiga oriundos do modelo SAFTE-FAST apresentaram degradação significativa para aquelas escalas com quantidades elevadas de madrugadas em períodos de 30 dias consecutivos.
De fato, foi verificado que aeronautas com escalas com mais de 10 madrugadas em 30 dias possuem ao menos uma operação de pouso e/ou decolagem associada a um período equivalente de vigília de mais de 24 horas, o que corresponde a um déficit de sono de mais de 8 horas.
Também foi observado um incremento de 23,3% no risco relativo da fadiga comparando-se escalas com uma (1) e treze (13) madrugadas num período de 30 dias.
Outro resultado muito interessante foi o comportamento quadrático (= elevado ao quadrado) da média de área de risco nas fases críticas de voo em função das operações entre 2 e 6 da manhã
Recomendações
A análise dos dados obtidos pelo Fadigômetro aponta para a necessidade de que tanto a quantidade de madrugadas quanto o número de operações de pousos e decolagens entre 2 e 6 da manhã, em um período consecutivo de 30 dias, sejam considerados indicadores chave de performance.
A recomendação dos pesquisadores é para que a quantidade dessas operações seja mantida tão baixa quanto possível nos processos de confecção e otimização das escalas dos aeronautas, não excedendo:
Um máximo de 10, a cada 30 dias, para as madrugadas.
Um máximo de 15, a cada 30 dias, para as operações entre 2 e 6 da manhã.
Em um momento de retomada dos voos e da produtividade, quando ainda são sentidos os impactos da pandemia e de fatores como o atual surto de gripe no Brasil, esses dois indicadores se apresentam como recursos importantes para a elaboração das escalas de voo sob o amparo da segurança.
Agradecimentos
A equipe de pesquisadores agradece o apoio da Comissão Nacional de Fadiga Humana (CNFH) e da Azul Linhas Aéreas, e também agradece aos aeronautas que aderiram ao estudo.
O apoio das entidades e a adesão de cada aeronauta à pesquisa têm sido fundamentais para a robustez dos dados apresentados, permitindo ao Fadigômetro alcançar o seu principal propósito: contribuir com a segurança de voo na aviação regular brasileira.
Sobre o Fadigômetro
Projeto de pesquisa pioneiro no mundo, o Fadigômetro tem como objetivo a criação de um banco de dados sobre o estado de alerta das tripulações da aviação regular brasileira durante suas jornadas de trabalho, permitindo a propositura de métodos para a análise do risco da fadiga e estratégias para sua mitigação.
O estudo tem ABRAPAC, ASAGOL, ATL e SNA como entidades idealizadoras e financiadoras, e conta com a inestimável participação e suporte científico da Faculdade de Saúde Pública, do Instituto de Física e do Laboratório de Ciências da Cognição do Instituto de Biociências da USP.
Acesse www.fadigometro.com.br para saber mais e participar!
1Entenda o que é um pre-print:
Pre-prints são artigos científicos que ainda não foram revisados por pares e que, portanto, devem ser considerados como versões ainda preliminares e passíveis de alterações.